assustas-me como a natureza quando desmaia pelo acasalamento de um bichotomas-me de assalto tão alto que só sei que és tu pela cor do ventre quando chorassei-te como a enciclopédia afogada em anexos pelos planetas que apareceram só para a contrariardás cabo de mim porque me pões fimdás-me o ânimo dos juncos que abanam só pelo ventodás-me as amoras dos trigais que são raras de tão impossíveisfazes-me viver como a palidez para o doente terminalprendes-me pelo cachaço como só a boca consegueaproxima o teu corpo ao meu e vamos fazer filhos dos outros para que todos procriem com amoremprestemos a nossa seiva às árvores que morrem da podae façamos de todos os seres o resultado inequívoco de um olhar nosso que se troca por miúdosés a ninfa sem verdeo fantasma sem escuroa corneta subtilo galgo que embala o aro coxo da perna boae eu fiz-me para te completarapareci para te reafirmar coerênciapara te investir valorpara te secundarpara te lamber o chão com a saliva que estava guardada para os beijos para além dos nossostu só és para mim exactamente o que sou para tie olha que é muitoe olha que chega para encher tanques de rãs com caríciasés a personificação das manhãs claras e dos membros sãosés a esposa que anseiao rasgão sem doro sangue sem ciúmea cor dos olhosa ternura da peleo carinho das cançõese eu serei o romance que mandou a tua cabeceira abater uma lareiraabraça-me muito que tenho medo sem tique choro muito sem tie sou-te porque não me conhecia atée sigo-te como o carneiro segue a camisolae vou estar na tua boca coladoa evitar os soluços e as palavraspara poder viver o resto dos dias na intermitência da tua respiraçãoamo-te por dentroinspira-te em mimamo-te por foraexpiro sem tiamo-te por dentroinspira-te em mimamo-te por foraexpiro sem tie o ar que me move move todose o ar que me move move todosin "a verdade dói e pode estar errada", de João Negreiros,
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assustas-me como a natureza quando desmaia pelo acasalamento de um bicho
tomas-me de assalto tão alto que só sei que és tu pela cor do ventre quando choras
sei-te como a enciclopédia afogada em anexos pelos planetas que apareceram só para a contrariar
dás cabo de mim porque me pões fim
dás-me o ânimo dos juncos que abanam só pelo vento
dás-me as amoras dos trigais que são raras de tão impossíveis
fazes-me viver como a palidez para o doente terminal
prendes-me pelo cachaço como só a boca consegue
aproxima o teu corpo ao meu e vamos fazer filhos dos outros para que todos procriem com amor
emprestemos a nossa seiva às árvores que morrem da poda
e façamos de todos os seres o resultado inequívoco de um olhar nosso que se troca por miúdos
és a ninfa sem verde
o fantasma sem escuro
a corneta subtil
o galgo que embala o ar
o coxo da perna boa
e eu fiz-me para te completar
apareci para te reafirmar coerência
para te investir valor
para te secundar
para te lamber o chão com a saliva que estava guardada para os beijos para além dos nossos
tu só és para mim exactamente o que sou para ti
e olha que é muito
e olha que chega para encher tanques de rãs com carícias
és a personificação das manhãs claras e dos membros sãos
és a esposa que anseia
o rasgão sem dor
o sangue sem ciúme
a cor dos olhos
a ternura da pele
o carinho das canções
e eu serei o romance que mandou a tua cabeceira abater uma lareira
abraça-me muito que tenho medo sem ti
que choro muito sem ti
e sou-te porque não me conhecia até
e sigo-te como o carneiro segue a camisola
e vou estar na tua boca colado
a evitar os soluços e as palavras
para poder viver o resto dos dias na intermitência da tua respiração
amo-te por dentro
inspira-te em mim
amo-te por fora
expiro sem ti
amo-te por dentro
inspira-te em mim
amo-te por fora
expiro sem ti
e o ar que me move move todos
e o ar que me move move todos
in "a verdade dói e pode estar errada", de João Negreiros,
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